PSORA, PSEUDO PSORA E SYCOSIS, - COMENTÁRIOS SOBRE O LIVRO DE .J. H. ALLEN
Miasmas
Comentários sobre o livro Psora, Pseudo-Psora and Sycosis, de J.H. Allen
Dr. Claudio C. Araujo MD, FFHom. (Lon)
Introdução
Os miasmas crônicos descritos por Hahneman, foram, são e provavelmente continuarão sendo alvo de discussões, pesquisas e teorias. Não existe, entre os médicos que professam a Homeopatia, um consenso no que diz respeito aos fenômenos clínicos oriundos da Psora, Syphilis e da Sycosis, entretanto, poucos trabalhos foram feitos e pouco foi pesquisado desde então.
Todos aqueles que estudam Medicina e que não se fixam somente no estudo das doenças de sua própria época, sabem que os quadros clínicos se modificam, em detrimento do agente etiológico. As causas dessas modificações são inúmeras, mas podemos citar principalmente as mudanças sanitárias, as vacinações em massa, a introdução de uma série de agentes terapêuticos eficazes no combate às doenças e aos seus vetores. O evento das terapêuticas e das medidas sanitárias modernas seriam teoricamente suficientes para manter sob controle, toda a gama de doenças que aflige nossa civilização, mas em contrapartida, tivemos o crescimento desordenado e o consequente empobrecimento de populações gigantescas, como é o caso do Oriente, África e América do Sul, que levaram à desnutrição, às condições incompatíveis com a vida: a ausência de água potável, de condições sanitárias, etc.
Nesse caminho estão combinados todos os fatores para o surgimento (e o ressurgimento) de doenças que em outras partes do mundo praticamente não existem de forma epidêmica, a não ser quando trazidas por viajantes oriundos desses bolsões de miséria.
A literatura homeopática, assim como as experimentações dos medicamentos, na maioria das vezes, se restringiu à observação de manifestações patológicas numa população que hoje em dia chamamos de “primeiro mundo”. Um grupamento de pessoas que na atualidade concentra praticamente todos os meios de sobrevivência do planeta, e que com isso conseguiu atingir níveis etários, sanitários e alimentares invejáveis. Não podemos imaginar uma epidemia de meningite ou crianças morrendo de gastroenterite aguda nesses países. Doenças que se apóiam basicamente em um sistema imunitário combalido pela fome e constantemente atacado por inúmeros agentes etiológicos, que tem nas “valas negras”, seu habitat natural não são mais um problema para essas populações. O são sim, para nós que vivemos uma situação de descaso, ignorância e desprezo pelos nossos semelhantes.
O mundo observado por Hahneman, J. H. Allen e Kent não existe mais. Suíça, Alemanha, França e Estados Unidos, (junto com outros poucos países) fazem parte na atualidade do grupo dos países mais ricos do mundo. Quando Hahnemann relatou suas observações que mais tarde ele denominaria de Sycosis, a Alemanha estava sob os canhões das tropas francesas; quandoAllen afirma que entre a população de Chicago, fossem homens ou mulheres, oitenta por cento carregava consigo a Sycosis e/ou a Sífilis, estava falando de uma era anterior ao descobrimento da penicilina e as epidemias de difteria descritas por Kent foram controladas através da vacinação em massa.
Como seria então se uma nova observação fosse feita, seja entre as populações ricas ou também entre as carentes?
É fato que, embora com todas as tentativas de controle sanitário e de vacinações, alguma coisa está escapando do controle feito pela Medicina. Do “lado pobre”, a malária, o cólera, os vírus sazonais entre muitos, e principalmente a miséria, não dão trégua aos seres humanos. Do “lado rico”, a liberação dos costumes levou a um aumento nas doenças sexualmente transmissíveis (como a sífilis, a blenorragia, uretrites inespecíficas, ou as manifestações condilomatosas, a hepatite B, o HIV, etc) que pela sua natureza são capazes de enfraquecer o sistema imunológico, através da destruição dos linfócitos, propiciando o resurgimento de uma série de doenças anteriormente controladas.
Cada época irá plasmar suas próprias manifestações externas da Psora, da Sycosis e da Sífilis. Não podemos nos basear inteiramente nas descrições de cada autor, trazendo essas observações para o nosso cotidiano, mas sim buscar o fio condutor que é comum em cada miasma, e que liga todas as épocas entre si.
Hahnemann e as Doenças Crônicas
O quadro clínico (da doença que Hahnemann denominou Sycosis,e que foi considerada por ele como um dos três miasmas crônicos, a partir de suas observações em pacientes, feitas durante as invasões napoleônicas de 1809 e 1814), era o seguinte:
1) Chamada de doença da verruga do figo (verruga acuminata), sua primeira manifestação era normalmente nos genitais e geralmente, mas nem sempre, vinha acompanhada de uma espécie de gonorréia
2) Que o tempo de manifestação era variável, de alguns dias à várias semanas após a infecção pelo coito.
3) Na observação macroscópica, as excrescências eram macias, esponjosas, emitindo um fluido especificamente fétido, um odor adocicado ou como o do arenque, e que sangravam facilmente.
4) Seu formato podia variar, entre o de “crista de galo” ou de couve flor. Podiam se apresentar também como verrugas secas ou semelhantes.
5) Numa nota, comentando sobre a descarga uretral, Hahnemann afirma que o miasma das gonorréias comuns parece não penetrar o organismo todo e sim apenas estimular no local os órgãos afetados, numa clara referência à uma diferenciação entre as diversas descargas uretrais de origem infecciosa. Essa mesma observação seria feita mais adiante por Allen e Kent.
6) Hahnemann também observou que mesmo removidas localmente, essas manifestações voltavam ao seu lugar de manifestação original. Mas que independente da sua remoção, uma série de transtornos secundários, internos, logo teriam lugar no organismo.
7) Outras manifestações da mesma natureza se seguiam: Tanto excrescências esbranquiçadas, esponjosas, sensíveis, elevações achatadas, na cavidade bucal, sobre a língua, palato e lábios, quanto tubérculos grandes, em relevo, marrons e secos, nas axilas, pescoço, escalpo, etc.
E outras manifestações orgânicas, como a contratura dos tendões dos músculos flexores.
8) Embora à princípio nos pareça simples, a indicação de Hahnemann para o tratamento da Sycosis, de fato, toma um caráter mais complexo quando ele nos aponta a complicação da Psora, (que poderia estar originalmente no seu estado de latência), agora conjugada ao miasma venéreo.
Psora, Pseudo Psora e Sycosis - J. H. Allen
Esse livro trás o que talvez seja o mais extenso estudo clínico sobre o miasma sicótico. Está pontilhado de observações e conclusões, muitas das quais vieram mais tarde a ser comprovadamente transitórias, fruto somente do conhecimento científico da época. Mas o que nos é de extrema valia, são as descrições minuciosas e fidedignas de inúmeros casos clínicos, casos esses cuja razão etiológica havia sido atribuída à Sycosis. Todos os casos têm um mesmo ponto de partida: A infecção venérea denominada gonorréia, mas que assumia algumas características clínicas distintas, em função do estágio onde se encontrava. Todos os pacientes relatam uma mudança no estado de saúde a partir da supressão de uma dada descarga uretral (no caso, a maior parte dos casos são homens) ou então mulheres portadoras de uma saúde perfeita até o início do casamento.
A partir desses casos e de outras observações do autor, compilamos uma lista geral mínima de sintomas atribuídos ao miasma:
1) “Sycosis não é um novo nome para gonorréia, e nem é gonorreia no sentido nosológico da palavra. Gonorreia simplex não é um miasma, enquanto Sycosis é um dos três miasmas de Hahnemann”.
2) O grau de intensidade dos sintomas uretrais na Sycosis é bem menor do que na uretrite da gonorreica. A descarga é pouca e geralmente mucopurulenta, uma mistura amarronzada, amarelada e esverdeada. O odor observado por Allen coincide com a descrição de Hahnemann.
3) No período de incubação, existe uma pronunciada ansiedade mental, com desejo de examinar os órgãos genitais. Essa ansiedade se intensifica ao longo da doença.
4) Quando a descarga é suprimida, um segundo estágio da doença se inicia, caracterizado por estase sanguínea nos órgãos internos, principalmente inflamações pélvicas da mulher.
5) Após um período que varia de um à três anos, um terceiro estágio se inicia, chamado daqui em diante de Sycosis verdadeira, que pode durar a vida toda do paciente, embora muito frequentemente, a doença se dirija à manifestações de malignidade, como scirrhous carcinoma em vários órgãos, ou degenerações císticas, crescimentos fibrosos, estases de órgãos internos, reumatismo crônico, e condições gotosas.
6) Mania, insanidade e outras alterações mentais, podem estar associadas à Sycosis. É uma causa mais potente que a Sífilis como causadora de doenças mentais e de insanidade moral.
7) É contraída essencialmente através do contato sexual, através do sêmen. É extremamente contagiosa, e perigosa de se coabitar.
8) Sycosis se torna uma força coexistente com a força vital, ou seja, as forças vitais passam a ser modificadas, passando a atuar pela influência e poder do miasma, sempre desfavoráveis ao bem do organismo.
9) É uma doença congênita, como a Sífilis e a Psora.
Allen começa com uma lista de sintomas, no recém-nato, sem nos dizer especificamente como chegou a conclusão de que aqueles sintomas seriam sicóticos, a não ser pelo fato de que seriam filhos de pais sicóticos, pais em cuja história houvesse a presença da infecção sicótica ou de um” tratamento anti-sicótico mal sucedido”.
Esses sintomas primários seriam, principalmente:
a) Oftalmia neonatorum
b) Cólicas desde o nascimento, de um tipo mais violento que o habitual. Os sofrimentos são violentíssimos, dores, espasmos, gritos lancinantes. As dores são paroxísticas, de natureza espasmódica. > no colo, carregada, > quando balançadas, > calor. < leite, comida.
c) Esses quadros são seguidos de vômitos sem náusea, diarréias ácidas e escoriantes, catarros intestinais.
d) Rinites, nariz seco e entupido. Fungando.
e) Pais sicóticos, complicados com Gota, teriam filhos afetados com condições gotosas na uretra, orelhas, nariz e até mesmo reto e vagina. As crianças se resfriam com facilidade e sofrem com freqüência de rinites aguda. A descarga nasal é copiosa e pode produzir escoriações internas.
f) Se a descarga nasal desaparece e cólicas surgem, com certeza noventa dias de cólica irão se seguir.
g) Muito frequentemente a descarga uretral se manifesta através de uma pequena gota, cremosa, purulenta. Cada corpúsculo contém um vírus tão específico, tão maligno, tão profundo em sua capacidade de ação quanto a pequena gota sero-purulenta do cancro verdadeiro.
h) O homem infecta a mulher em qualquer período de tempo após o desaparecimento da descarga, e o filho irá manifestar sintomas a partir do nascimento.
i) A mulher tem parte de seu endométrio afetada, o cerviz ou qualquer outra parte, se a doença se estender.
j) A história de uma mulher saudável antes do casamento e do seu declínio repentino é um bom sinal para a existência da Sycosis em pacientes não tuberculosas.
k) Se o paciente já tem no seu organismo a marca da tendência tuberculosa, a doença assume então um caráter maligno.
l) Lagrippe é uma das expressões agudas da Sycosis. Quando ela encontra pacientes com tendência tubercular, e que já estão sofrendo com uma sicose adquirida, com certeza teremos metástases da doença, nos pulmões, brônquios, meninges, etc. A paciente tem a febre, dor, tosse, invasão catarral do nariz, brônquios, pulmões, olhos ou outras membranas mucosas, como faz a Sycosis.
m) Se a descarga não for restabelecida, a cura jamais será possível e o organismo poderá morrer, devido à processos mórbidos e mudanças dependentes de estase, devido à supressão.
Complicações do primeiro estágio
1) As vezes uma leve cistite pode estar presente, as vezes abscessos pela supressão da doença, na bexiga ou uretra. Esses abscessos podem ser seguidos por hemorragias. Os sintomas podem expressar a natureza do miasma, através de neuralgias, reumatismo, inflamação dos ovários, alterações do trato digestivo ou mesmo aberrações mentais. (...) e um vírus mortal, disseminado(...)
2) A primeira grande mudança, quando suprimida, é atacar o sangue e produzir anemia.
Bubões, supurativos ou não. A prostatiteé bastante comum, e pode perdurar por todos os estágios da doença.
3) Foi observado reumatismo articular agudo, após a supressão da descarga. Se apresenta sob uma forma subaguda, sintomas mais brandos do que a febre reumática, se segue à uma supressão qualquer de uma descarga, e > após o restabelecimento da descarga.
Sycosis Secundária
As causas subsequentes da infecção sicótica são sempre decorrentes ou da supressão da descarga, por qualquer método de tratamento, ou de um tratamento malsucedido. Se a descarga for mantida, provavelmente a doença não irá se desenvolver. Nesse raciocínio, a cura só poderá ser efetuada se a descarga for trazida de volta, independente do tempo decorrido desde a infecção. Em mais de cinquenta casos de artritismo agudo pós supressão da gonorréia, somente houve melhora quando a descarga foi trazida de volta.
Uma outra forma de supressão seria a remoção de um órgão ou de uma parte que estivesse sendo o foco de ação do miasma sicótico. Como consequência, teríamos um novo local de manifestação, ou a disseminação para níveis mais profundos.
1) Quase todas as doenças que aparecem nesse estágio têm caráter inflamatório e o achado clínico mais frequente são as inflamações pélvicas na mulher. Ovarites, hidrosalpingites, abscessos etc. Degenerações císticas dos ovários, cerviz e útero. Peritonites, cistites, metrites, parametrites, infamação do endométrio, apendicites.
2) Os tecidos apresentam uma coloração vermelho-escura, devido à congestão venosa, cobertos por uma fina camada purulenta, com odor ofensivo, de peixe morto. Podem ser sensíveis ao toque. Mesmo a sudorese é ofensiva, nas axilas, coxas e órgãos genitais.
3) Eritemas em bebês, que eliminam uma descarga ofensiva. A parte afetada esta violácea e o pus é marrom-amarelado ou verde-amarelado, escoriante.
4) Geralmente todo o períneo está inflamado, quente, machucado e dolorido, e a urina é escoriante.
5) Aderências e abscessos peritoneais, cistos mucosos na parede uterina.
6) O aparecimento de verrugas em várias partes do organismo, não como uma possibilidade de melhoria, mas parte do processo de evolução da doença. Sífilis e Sycosis entrariam juntas na formação da maior parte das excrescências (como os condilomas, verrucca acuminata, crescimentos papilares, etc) com exceção da verruga comum.
7) Esterilidade, principalmente após o primeiro filho, seguida de metrite. Câncer de útero.
8) Mania, insanidade, degeneração moral, desonestidade.
9) Pneumonia, doenças gastrointestinais, dificuldade de digestão, lesões cardíacas, doenças valvulares, reumáticas . Câncer de estômago. Orquites. Diabetes mellitus.
10) Hemorróidas pruriginosas que eliminam uma serosidade com odor de peixe.
11) Resfriados com frequência, começando com espirros, coriza, se localizando rapidamente nos brônquios. Ardência no peito. < inverno, frio.
Estágio Terciário
Algumas questões são tidas como causas para o aparecimento do terceiro estágio:
1) A supressão da doença no primeiro ou segundo estágio, através de curetagens, remoções de órgãos adoecidos, banhos locais etc.
2) Um tempo bem maior para a manifestação dos sintomas: Tendência à malignidade, sensibilidade às variações da pressão atmosférica, dificuldades mentais, irregularidades menstruais, etc.
Uma forma subaguda, constante, indicativa da existência do miasma, e extremamente contagiante seria a “gleet”, uma uretrite crônica, de pouca descarga e quase nenhum incômodo, mas que estaria sempre acompanhada de uma série de doenças e acometimentos no organismo.
As lesões seriam:
a) Câncer, carcinomas, lúpus, epitelioma, tendência à diabetes, tuberculose e Doença de Bright.
b) Verruca filiformis, vulgaris e plana. A vulgaris seria encontrada em crianças com Sicose hereditária, a filiformis através da Sicosis adquirida, na fase terciária e a plana juvenilis como uma outra forma hereditária. A filiformis aparece constantemente, após a remoção de órgãos afetados pela doença. O aparecimento das verrugas foi observado tanto no processo natural da doença, quanto na supressão das manifestações (a extirpação de um órgão afetado) ou ainda como seguimento, após o desaparecimento dos sintomas orgânicos profundos, associado à uma melhora do estado geral.
c) Um elemento sicótico é encontrado nas manifestações malignas advindas das verrugas, em especial a pápula perolada (provavelmente carcinoma basocelular) mas que seria de origem tubercular ou sifilítica.
d) red mole.
e) spider web.
f) Lúpus, na forma comum (discóide?) ou eritematosa pertence a família tubercular, mas com o elemento sicóticopresente.
g) Tinea sicosis, tinea barbae, tinea circinata, tinea circumscrita e todas as formas de doenças de pele adquiridas nos barbeiros. A supressão dessas manifestações levaria às doenças descritas anteriormente e mais à melancolia, mania, histeria e manifestações malignas
h) Rubéola e as doenças exantemáticas são interrogadas, na possibilidade de pertencerem ao miasma, de possuírem o elemento sicótico nelas. Varíola e varicela em todas as suas diferentes formas têm características do elemento sicóticopresente. Eczema eritematoso, erisipelas, herpes, zoster e impetigo contagioso. Psoríases tem o elemento gotoso encontrado na Sycosis, embora dependa da Psora.
i) Gota e a diáteses gotosa, mas sem estar presente o elemento externo: seria uma alimentação rica em excessos de carne, bebidas, etc.
No início do século XIX 25% dos casamentos na França eram estéreis, 24% só tinham um filho.
A causa era atribuída aos homens, contaminados com a Sycosis e que então contaminavam as esposas. (embora a medicina tradicional da época atribuísse somente à sífilis tais resultados)
As manifestações clínicas da sycosis, após um certo tempo, fariam uma ligação/combinação com o miasma Psora dessa forma modificando as manifestações clínicas psóricas.
“O sérum das vacinas tem o elemento sicótico presente”.
Comentários sobre o artigo de J.T.Kent
Natrum sulphuricum e Sycosis e Lecture XXI - Sycosis
Contemporâneo de Allen, os artigos de Kent datam de alguns anos anteriores do lançamento dos livros do primeiro. Mas como pode ser percebido, ambos partilhavam as mesmas experiências e observações e como podemos concluir pelas afirmações de Allen (que não estão incluídas nesse trabalho), ambos acreditavam numa causa transcendental da doença do Homem e eram ambos seguidores o filósofo sueco Emmanuel Swedemborg (1688-1772).
Os sintomas a seguir foram tirados dos dois capítulos mencionados acima, e são decorrentes, assim como em Allen, da observação clínica em pacientes com história de contágio e supressão nos homens e transmissão posterior às suas esposas - de uma descarga uretral.
1) A asma, quando hereditária, seria uma das indicações da presença da Sycosis. Se um caso de asma for curado, será sempre com um medicamento anti-sycotico.
2) A “doença do barbeiro” é uma doença sicótica. Um outro tipo importante são as verrugas gonorreais, as excrescências em couve-flor,
3) Gonorréia é a parte contagiante da Sycosis. É a forma como a doença é transmitida de geração à geração. É uma doença constitucional, por produzir verrugas, reumatismo, durar por toda a vida e ser transmitida através das gerações.
4) Supressão da descarga uretral significa aprofundar a doença no organismo.
5) Existem dois tipos de gonorreia: Uma que, quando suprimida, não leva à complicações orgânicas. Outra, a verdadeiramente sicótica, vai gerar sintomas constitucionais. A primeira denominada de aguda, a segunda, crônica.
6) O remédio que é capaz de trazer de volta a doença sicótica às suas manifestações de origem, (a descarga uretral) é um anti-sicótico. Se estivermos tratando um caso Psórico, esse mesmo medicamento será um anti-psórico.
7) Problemas uterinos, ovarianos, alterações estomacais, observados em mulheres casadas há um ou dois anos com maridos que tiveram gonorréias suprimidas. Fibróides do útero e ovários, degenerações nos rins, anemia.
8)As vezes o processo de desenvolvimento é lento, latente e então um estado de anemia poderá aos poucos se instalar.
9) O contágio se faz no nível em que está a doença no organismo, sem necessariamente a descarga uretral estar presente.
10) Condições catarrais, nos olhos e principalmente no nariz. Quando o organismo consegue manter uma descarga de mucosa (no caso o nariz), a doença não atinge os níveis mais profundos. É somente no estágio inicial que a doença se apresenta como uma descarga de mucosa. Depois são afetados os pulmões, fígado, surge o reumatismo, levando até à morte.
11) Afeta mais as partes moles e não os ossos.
12) Orquites, inflamações no reto.
13) Dores reumáticas violentas após supressão de uma gonorréia. O paciente não consegue ficar parado. Ele se vira, rola na cama, anda pelo quarto, sem parar. Raramente existe inchação nesses reumatismos, parece que foram as bainhas dos nervos as estruturas afetadas. Os tendões se contraem, os músculos encolhem e se tornam tão doloridos que não podem ser tocados ou examinados. As vezes existe infiltração e endurecimento, o que impossibilita o paciente de andar. Só existe melhora se a descarga for trazida de volta.
14) Nas mulheres que contraíram a Sycosis numa fase secundária, a melhoria não necessariamente leva à um aparecimento da descarga.
15) Esterilidade feminina.
16) Crianças de pais sicóticos nasceriam com tendência à marasmos, tuberculose, ou um aspecto de envelhecimento prematuro no rosto. Anemia, fezes lientéricas, má digestão, diarréia a cada estação quente, parecendo cholera infantum.Não crescem, não se desenvolvem.
17) Tendência à tuberculose aguda, à formação de epiteliomas.
18) A recuperação de qualquer quadro agudo é mais lenta, ou com várias complicações. O paciente não reage, seus tecidos não se recuperam, ele não tem condições de assimilação. Falta de vitalidade na convalescência.
19) As crianças com Sycosis hereditária são muito mais susceptíveis de se contaminarem com a gonorréia sicótica. A susceptibilidade está presente por herança.
20) Só se contrai a gonorréia sicótica uma vez. Desde que adquirida, ela confere imunidade para sempre. Quanto mais os miasmas forem se complicando e se desenvolvendo, mais a humanidade estará susceptível as doenças agudas e epidêmicas.
Um século depois de Allen e Kent, e um século e meio depois de Kahneman, o que podemos nós entender desse legado? Como podemos analisar essas observações à luz da ciência do séc. XXI? Quais são as observações que nós, herdeiros da ciência homeopática, podemos fazer nos nossos pacientes? Existe uma relação entre as observações feitas há cem anos e as atuais? É a Sycosis uma doença ou um miasma, segundo a concepção miasmática de Hahnemann?
Para responder à essas perguntas, algumas questões devem ser definidas:
Devemos ser capazes de formar uma idéia global da questão: com início, desenvolvimento e conclusão.
Precisamos encontrar um ponto de partida aonde as coisas se iniciam e a partir daí, analisar o seu desenvolvimento. E o começo de tudo (deixando de lado as questões metafísicas a título de evolução do raciocínio) com certeza é que é através do contágio que a doença se perpetua na espécie humana. Os três autores são completamente firmes nesse ponto, o que não nos trás dúvidas.
Que o contágio com a sycose se faz de duas formas:
Através da relação sexual (entre homens e mulheres e também entre indivíduos masculinos) e através da transmissão vertical ou seja, da herança dos pais (ou da mãe, através da circulação placentária, do aleitamento, e da contaminação no parto).
No contágio através da relação sexual, três são as possibilidades:
a) Que o contágio se dê através de uma descarga uretral, definitivamente composta de dois ou mais agentes patogênicos. Como vimos anteriormente, Kent e Allen fazem uma diferença entre um tipo de gonorréia aguda e uma outra, crônica. Com certeza estamos perante uma combinação de agentes bacterianos, como o Gonococcus e a Clamydiae e um grupo de vírus, que vamos abordar mais adiante.
b) Que o contágio se dê sem o aparecimento de uma descarga purulenta, mas os efeitos subsequentes, como as patologias pélvicas femininas, estarão presentes. Isso é analisado por Kent como sendo o contágio em fases distintas da doença, mas podemos, através do conhecimento da microbiologia atual, supor que - provavelmente - houve somente o contágio viral, sem a presença de bactérias ou um agente etiológico distinto.
c) Que existe mais de um agente microbiano causador da Sycose, e que, por conseguinte, embora as primeiras manifestações observadas por Kahneman, podem diferenciar das de Allen e das de Kent, (ou mesmo das observações atuais), estamos sempre perante a mesma doença miasmática.
Com relação a transmissão hereditária ou placentária, duas são as possibilidades:
a) Que o fator etiológico (partes do vírus) pudesse se combinar ou ser carreado no momento da conjugação óvulo/espermatozoide, ou modificar o DNA do pai ou da mãe, podendo assim ser transmitido, propiciando o aparecimento de um grupo de novas tendências patológicas, ou uma desproteção imunológica adquirida aos agentes virais e bacterianos.
Essa possibilidade de combinação iria confirmar e ilustrar as observações desses autores quanto à existência de dois ou três miasmas intrinsecamente ligados, formando características próprias.
b) Que o agente etiológico pudesse atravessar a barreira placentária, alterando o estado de saúde do feto, tanto na vida intra quanto na posterior vida extrauterina. (Para que isso aconteça, é necessário qualidades distintas do agente patogênico e condições precárias da imunidade materna).
Com relação a própria Sycosis, vamos dividir o quadro clínico em dois grupos. Os sintomas vão se desenvolver a partir dp contato sexual e a posterior supressão desses sintomas
1) O organismo estabelece um primeiro contato com a doença, contato esse representado pela descarga uretral, na maior parte dos casos. Essa descarga tem características, odor, sintomas bastante distintos de uma descarga que não provoca alterações constitucionais. Estaríamos então perante aos agentes próprios da Sycosis.
2) O aparente local de eleição desses agentes posteriormente à infecção uretral são os órgãos reprodutivos, causando o aparecimento de inflamações em todos os órgãos da pelve, abscessos, cistos purulentos, esterilidade por obstrução das trompas, prostatites, orquites, fibróides uterinos, cistos e fibrose ovarianos, afecções do endométrio, da cerviz, cistites e abscessos vesicais e excrescências nos órgãos genitais e no reto.
Em todas essas manifestações, o odor de peixe dos exsudatos, a congestão, o aspecto violáceo das mucosas e a natureza crônica das doenças são dados determinantes. Existe a tendência a formação de cistos, endurações, fibroides e abscessos, e as vezes tumorações de natureza maligna.
3) Kent comenta que nas constituições mais fortes, uma descarga nasal, obstrução nasal e espirros freqüentes com uma secreção clara e escoriante, aparecia. Se isso não acontecesse, uma outra manifestação orgânica, mais lenta e insidiosa, tomaria forma. Allen também observa nos pacientes afetados pela sicose devido a supressão da descarga gonocócica, uma anemia violenta acompanhada de fraqueza, prostração as vezes levando até a morte.
4) Artrite gonocócica.com características distintas do reumatismo infeccioso, foi um achado bastante freqüente em ambos, Allen e Kent. O último comenta que lhe pareceu estarem os nervos afetados em primeira instância, daí então produzindo contração e encurtamento nos tendões, nos músculos da perna, dores violentas que impediam a marcha, junto com inflamação de várias partes dos membros, principalmente dos pés.
5) Excrescências, verrugas, condilomas, de vários tipos.
6) Alterações no metabolismo do ácido úrico, gota em diversas localizações.
7) Nesse grupo, estamos citando o que nos parece o processo sicótico em sua fase de maior desenvolvimento patológico. Os órgãos afetados são os mais profundos e estão todos eles comprometidos, sem exceção: Lesões cardíacas, valvulares; carcinomas, epiteliomas, scirrus carcinoma, tendência à malignidade; lúpus - discóide e sistêmico; hepatites crônicas; abscessos renais; diabetes mellitus; doença de Bright; tuberculose.
8) Algumas alterações mentais são atribuídas ao contágio com a Sycosis. É importante observar que não são sintomas mentais propriamente ditos, mas quadros de alteração mental. São eles: ansiedade mental, mania, insanidade e degeneração moral. São todos de Allen.
Aos olhos da ciência atual, muita coisa nesse grupo merece uma releitura. Não fazem muitos anos desde que a imunologia, a genética e a microbiologia vêm podendo nos ajudar à desvendar esse mistério - o da formação do miasma sicótico. Se os autores são todos categóricos ao afirmar o caráter contagioso e por conseguinte transmissível da doença miasmática, o que estaria então contaminando cada indivíduo - homem ou mulher?
Passamos então a olhar cada manifestação dentro do seu conjunto e, comparando com os achados da microbiologia atual, traçar um paralelo entre os agentes conhecidos e os quadros acima descritos. Foram selecionados apenas os agentes etiológicos capazes de serem vetores de doenças sexualmente transmissíveis ou que tenham como habitat o sistema gênito-urinário e que podem estabelecer uma relação de causalidade com o quadro anterior.
São eles:
1) Vírus da Hepatite B (HBV)
a) A transmissão se faz pelo sangue, através das transfusões, mas o caminho natural do vírus é pelo contato sexual e pela transmissão mãe-filho, durante o parto ou na amamentação.
b) O complexo antígeno-anticorpo pode causar artralgia na fase inicial da doença e algumas das complicações durante a hepatite crônica, tais como a glomérulo nefrite complexo-imune e as vasculites.
c) Existe uma incidência maior do HBV em áreas com um número grande de casos de hepatoma. A infecção crônica geralmente causa cirrose hepática. O HBV DNA e o antígeno de superfície foram encontrados em células malignas. Embora nenhum gene do HVB esteja implicado na oncogênese, a integração do HVB DNA pode causar mutagênese insersional, resultando na ativação de uma oncogene celular.
2) Vírus da Hepatite C (HCV)
É similar ao HVB, na sua forma de transmissão, na formação da hepatite crônica e na sua associação com o carcinoma hepatocelular.
3) Human T-Cell Leukemia Virus (HTLV-1 e HTLV-2)
a) Sua transmissão é primariamente por contato sexual.
b) São considerados, junto com o HPV, os vírus associados à formação de tumores humanos (Human Tumor Viruses). Vários outros vírus são candidatos à serem HTV, mas não estão de todo comprovados.
c) São capazes de causar câncer. São fundamentalmente adquiridos da forma exógena de contáfgio, devido ao fato que seu DNA pró-viral somente é encontrado nas células de linfoma maligno.
Infecta celulas T CD4 preferencialmente, e induz nessas células transformações malignas.
d) São causadores da Leucemia-Linfoma de Células T de adulto.
4) Herpes vírus-2 (HSV-2)
a) Provavelmente um vírus tumoral, devido ao fato de que mulheres com HSV-2 têm uma maior incidência de carcinoma do cerviz do que as não portadoras, e mulheres com esse carcinoma têm proporcionalmente muito mais anticorpos contra o HSV-2 que do outro grupo de comparação (match control group). Proteínas e DNA do HSV-2 são encontradas no carcinoma cervical e têm a propriedade de tornar malignas certas células in vitro.
b) Sua transmissão é via sexual. A imunidade é insuficiente e a reativação do vírus pode ocorrer, mesmo na presença de IgG. A supressão da imunidade mediadora celular, (que limita a ação do vírus), resulta na ativação, disseminação e um quadro grave da doença.
5) Citomegalovírus (CMV)
a) Causador da Doença de Inclusão Citomegálica (especialmente inclusões congênitas) em neonatos, e mononucleose heterofila-negativa. Sua transmissão pode ser feita através da placenta, pelo canal vaginal ou no leite materno. A forma mais comum em bebês é através da saliva, mas em adultos pode ser transmitida pelo contato sexual. Está presente no sêmen e na secreção cervical.
b) Infecção pelo CMV causa um efeito imunossupressor, pelo fato de inibir células T.
c) As defesas incluem anticorpos circulantes e imunidade celular mediada. A segunda é mais importante, pelo fato de que sua supressão causa um adoecimento sistêmico.
d) Pode causar pneumonites e hepatites em pacientes imunodeprimidos.
6) Epstein-Barr virus (EBV)
a) Embora não sendo um vírus de transmissão genital, está incluído no nosso estudo por ser transmitido pelo beijo (saliva) e estar associado com o linfoma de Burkitt, outros linfomas de célula B, carcinoma nasofaringeal, e carcinoma do Timo.
b) Permanece latente dentro dos linfócitos B. Algumas cópias do EBV DNA integram-se ao genoma celular, outras se encontram no citoplasma.
c) É responsável pela Mononucleose infecciosa, que causa febre, dor de garganta, linfo adenopatia e esplenomegalia. É comum causar hepatite, às vezes encefalite. Em pacientes imunodeprimidos pode ser fatal.
7) Human Papillomavirus (HPV)
a) É um dos vírus sabidamente causadores de tumores nos seres humanos. Papilomas (verrugas) são benignas, mas podem progredir e formar carcinomas especialmente em pessoas Immuno compromissadas.
b) A carcinogênese pelo HPV envolve duas proteínas codificadas pelo genes do HPV, E6 e E7, que interferem com a atividade de dois genes supressores tumorais, p53 e Rb (retino blastoma) encontrado em células normais.
c) Existem pelo menos 60 diferentes tipos de HPV, causadores de entidades clínicas distintas.
HPV-1 a HPV-4 causam verruga plantar nas solas dos pés.
HPV-6 e HPV-11 causam verrugas ano-genitais (condilomata acuminata) e papilomas laríngeas.
HPV-16 e HPV-18 estão associados como causa do carcinoma da cerviz.
Aproximadamente 90% dos carcinomas ano-genitais contém DNA desses tipos de HPV.
Na maioria das células tumorais, o DNA viral está integrado ao DNA celular e as proteínas E6 e E7 estão sendo produzidas.
d) A transmissão é feita pelo contato pele-com-pele, ou pela via sexual. As verrugas genitais representam uma das doenças mais comuns sexualmente transmissíveis.
Provavelmente, Hanneman estava perante a eclosão de uma contaminação dentro de um grupo fechado, formado basicamente pelos soldados e pelas mulheres que estavam estabelecendo relações sexuais com eles. É possível imaginar que o número de mulheres fosse bem menor que o de homens, o que faria a disseminação da doença muito mais facilmente, já que homens e mulheres trocavam entre si os agentes patogênicos.
Pela descrição de Hahneman, e posteriormente de Allen e Kent, com certeza uma ou mais bactérias deveriam estar associadas à Sycosis, decorrente do fato de que a “manifestação primária”, clinicamente, é de caráter bacteriano.
Algumas bactérias tornam-se elegíveis de serem associadas aos vírus acima, dentre elas:
1) Neisseria gonorrhoeae
a) O gonococos pode causar tanto doenças locais (geralmente no trato urinário), quanto disseminadas por vários órgãos. Nas mulheres a infecção se localiza primariamente no endocerviz, acompanhada de uma descarga vaginal purulenta e sangramento entre as menstruações.
A complicação mais frequente nas mulheres é uma infecção ascendente através das trompas, que pode resultar em esterilidade por entupimento das mesmas e doença pélvica inflamatória.
b) Infecções disseminadas são, principalmente, artrites, tendosinovites ou pústulas. É a causa mais comum de artrite séptica em homens adultos. Nos neo-natos, oftalmia neonatorum (conjuntivites purulenta) é causada pelo gonoccocus, contraída na passagem pelo canal vaginal durante o parto.
c) Está frequentemente associada com outras doenças sexualmente transmissíveis, principalmente Clamídia trachomatis.
d) Um dos maiores problemas para o controle da doença são os portadores assintomáticos.
2) Chlamydiae trachomatis
a) Usualmente transmitida por contato sexual ou pela passagem pelo canal vaginal no parto.
b) É causadora da uretrite não-gonocócica, mas geralmente, as duas doenças ocorrem simultaneamente no mesmo indivíduo. É provavelmente a doenca sexualmente transmissível mais comum.
c) Geralmente evolui, nos homens, para epididimite, prostatite e proctite. Nas mulheres, desenvolve cervicite, que pode evoluir para salpingite e doença inflamatória pélvica.
d) Crianças nascidas de mães infectadas podem desenvolver infecções oculares e algumas podem vir a ter, algumas semanas após o parto, pneumonia por Chlamydiae.
e) C. thrachomatis imunotipos L1-L3 causam linfo granuloma venéreo.
Provavelmente, outras bactérias podem estar associadas ao grupo de sintomas descritos por Kent e Allen, entre elas Staphylococcus, Streptococcus, Klebisiela, E. coli, Pseudomonas, etc, mas parece, à primeira vista, que são quadros inflamatórios decorrentes de um indivíduo com seu sistema imunitário combalido pelo desenvolvimento de outras infecções concomitantes, sejam elas virais e/ou bacterianas. As ocorrências descritas por Allen, tais como as doenças cardíacas valvulares, abscessos peritoneais etc., podem ser decorrência da ação de alguns vírus contra as células CD4, (como fazem alguns vírus descritos anteriormente). Isso deixaria o organismo vulnerável à invasão de um outro grupo de infestações bacterianas, como pelo Estreptococos beta, ou o Estafilococos aureus.
Sintomas atribuídos à
Quando falamos de uma Sycosis hereditária, dois fatores devem ser relevados:
Primeiro, a contaminação através da placenta, pelo aleitamento (por viroses), pela presença do vírus no esperma ou no óvulo, ou a contaminação bacteriana ou viral através do canal vaginal.
Segundo uma transmissão da doença citada pelos autores como um complexo, envolvendo Psora e Sycosis,simultaneamente.
A combinação de miasmas, mencionada por Kahneman, como um fato clinicamente observado por ele e mais tarde por Kent e Allen, sempre foi motivo de discussões e, principalmente, por diversas teorizações entre os homeopatas, (alguns dos quais propõem estudos onde a origem miasmática de cada sintoma deva ser levada em consideração, para uma prescrição efetiva).
Mas, atualmente, as recentes descobertas da genética e da microbiologia podem nos ajudar a entender o que nos foi deixado por Kahneman. Utilizando os vírus que agem como vírus tumorais, como exemplo, vamos seguir os passos da transformação de uma célula “normal” em uma célula maligna.
Dois maiores conceitos são utilizados, na gênese tumoral:
Provirus: o gene entra na célula na hora da infecção por um tumor vírus. A evidência desse modelo e o fato de serem encontrados DNA viral integrados no DNA celular somente em células infectadas pelos vírus.
Oncogênese: Nesse modelo, os genes para malignidade já se encontram presentes na células do corpo, em virtude de estarem presentes no esperma ou no óvulo original. Os oncogêneses codificam proteínas que encorajam o crescimento celular. Substâncias carcinogênicas, como químicos, radiação, e vírus tumorais ativam a oncogênese celular. Como consequência, teremos crescimento celular e malignidade. Provas desse modelo são a existência de oncogênese semelhantes à genes virais, nos DNA celulares.
Mais de vinte oncogenes já foram identificados e alguns desses genes têm também uma função fisiológica normal.
Um outro mecanismo de carcinogênese envolvendo genes celulares é a mutação de um gene supressor tumoral. HPV e SV40 vírus produzem uma proteína que se liga ao gene do retino blastoma, ativando o crescimento do tumor.
HPV também produz uma proteína que se liga à proteína codificada pelo gene p53, um outro gene que controla o crescimento em células humanas.
Inativação dos gens supressores tumorais parece ser outro mecanismo importante na oncogênese viral. Esses genes estão envolvidos nas formações de outros cânceres, como o carcinoma de seio, do cólon e vários sarcomas.
Podemos concluir então que a transferência do HPV, através do sêmen ou do óvulo, implicaria em transmissão dos caracteres genéticos do vírus sob a forma de oncogênese, ou proteínas que se ligam aos outros genes celulares e de parte do DNA viral gravado no próprio DNA celular humano. Isso faria com que tôdas as células do novo organismo guardassem em si a propriedade de malignização ou de outras mutações impostas pelo material viral. (Segundo esse modelo, é essa a explicação para o aparecimento de doenças malignas em crianças).
A combinação de partes do DNA viral com o DNA celular, (tanto no paciente infectado pela doença sexualmente transmissível, quanto nos filhos de pessoas contaminadas por esses vírus) resulta no que foi referido como uma combinação Psora-Sycosis.
Psora, segundo Kent, é a susceptibilidade. E a susceptibilidade está representada a nível celular e humoral pelo nosso sistema imunitário. São nossos linfócitos, complementos etc. que nos protegem dos agentes patogênicos, sejam eles quais forem. Se houver uma alteração desse sistema, estaremos vulneráveis e por conseguinte, susceptíveis, psóricos.
À esse estado Psórico, tanto a Sycosis quanto a Syphilis vêm se somar, formando todo o conjunto de possibilidades patológicas que cada ser humano pode vir à desenvolver.
Dois pontos devem ser comentados, questões homeopáticas que agora encontram seus fundamentos na ciência:
1) A eterna aversão dos homeopatas pelas vacinações, ou seja, nossa observação clínica das complicações que as vacinações causam no organismo, pode ser entendido se sabemos que o DNA viral ou bacteriano será introduzido no organismo, podendo atuar como um desencadeador de um oncogênese já residente no DNA do organismo hospedeiro, ou então se combinando ao DNA celular e criando uma estrutura alterada nesse DNA. Por isso, se dizia que as vacinações eram (e ainda em grande parte são) sicotizantes.
2) A melhora da Sycosis só se faria através do restabelecimento da descarga inicial, ou seja, o retorno dos sintomas originais da doença. Com certeza o organismo, no processo de cura, refaz a descarga. Mas não por um retorno de sintomas e sim por que a única forma que o organismo encontra para se livrar dos microorganismos é através da ação do sistema imunológico. E o substrato da ação desse sistema são linfócitos, polimorfonucleares, etc, que carregam em si o fruto da batalha entre o organismo e os invasores, invasores esses que são eliminados através da passagem dessas células “contaminadas” através dos capilares, (que se abrem por um sistema de mediação celular) e que tomam a forma macroscópica de uma descarga de mucosa, que pode ser purulenta, amarelada, etc.
Conclusão
Se agora nos dispusermos a reler os quadros sintomatológicos descritos por Allen, Kent e Kahneman, pouca coisa fica por explicar. Os agentes mencionados acima são responsáveis por grande parte dos sintomas descritos. Nossos autores estavam perante a uma serie de doenças distintas, sexualmente transmissíveis e interpretaram o conjunto como se pertencessem todos à uma mesma doença como Kahneman havia feito com a Psora. Com certeza estavam perante a uma entidade que era capar de se transmitir as gerações seguintes e que não era uma bactéria. Ainda faltavam muitos anos para que tudo o que sabemos sobre os vírus (e que ainda é pouco) nos pudesse ajudar a entender o que foi relatado anteriormente.
A possibilidade do gonococo vir a se desenvolver como um reumatismo, de evoluir com esterilidade feminina, estar combinado com a presença da Chlamydiae, do HPV e de outros vírus, simultaneamente ou não, (vírus esses que produziam todo um outro grupo de sintomas) levou os autores à concluir que estavam perante à uma só doença, com várias formas e desdobramentos.
Provavelmente uma outra má compreensão do fenômeno foi a de que a doença era transmitida no estado em que estava, entre hospedeiro e receptor. A ausência de descarga, mais a posterior complicação do paciente levavam à essas conclusões, mas provavelmente esses casos eram de contaminação viral, como os da HBV, CMV ou HTLV. Como vimos anteriormente, num organismo “predisposto”, ou seja, em que seu DNA celular contivesse um oncogene, uma infestação por um vírus tumoral poderia pôr esse DNA em processo de crescimento desordenado e de malignidade.
Atualmente, mais e mais genes são conhecidos e as suas funções decifradas. A cada dia nosso código genético é mais conhecido, e a ciência moderna atribui atualmente à heditariedade a primeira causa entre as doenças crônicas, malignas ou não.
A Psora de Kahneman e a Susceptibilidade de Kent vão tomando forma e denominação através de todas essas descobertas, o que nos faz mais seguros ainda da ciência homeopática.
Kahneman afirmava que a medicação homeopática revertia a Psora Desenvolvida à um estado Latente, o que quer dizer suspender por tempo indeterminado a ativação de todos os nossos genes causadores das doenças crônicas.
Kent e Allen eram capazes de pôr o sistema imunológico em marcha, e com isso provocar a expulsão de bactérias e vírus que haviam infestado o organismo. A Homeopatia possui algo de que a ciência moderna nem sonha, que é a possibilidade de, efetivamente, atuar sobre esses agentes infecciosos, sem causar o distúrbio que os anti-virais modernos são capazes de produzir.
O mais impressionante, como sempre, é a genialidade de Hahnemann, e de como ele singularizou o HPV entre várias outras doenças, sendo esse vírus o causador de tantas modificações genéticas, tão mais presente na formação dos tumores que todos os outros vírus.
BIBLIOGRAFIA
1 )Hahnemann, S. As doenças crônicas, sua natureza peculiar e sua cura homeopática- 1a edição brasileira GEHSP “Benoit Mure”, Sao Paulo.
2) Hahnemann,S. Organon der Heilkunst, 6.Auflage, O.-Verlag, 1985
3) Allen, J.H. The Chronic Miasms - Sycosis, B. Jain publishers - New Delhi 1989
4) Kent, J.T. Lectures on Homoeopathic Philosophy B. Jain Publishers, New Delhi, 1976
5) Kent’s Materia Medica, B. Jain Publishers New Delhi 1976
6) Levinson e Jawetz, Medical Microbiology & Immunology, Appleton and Lange 1994
7) Roitt, Brostoff, Male Immunology , 4th Edition, Mosby, 1996
8) Roitt, I., Essential Immunology, 8th Edition, Blackwell Scientific Publications, Oxford, 1994