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LYSSINUM

Matéria Médica

Compreendendo LYSSINUM

Dr. Claudio C. Araujo M.D., F.F.Hom. (Lon.) et al.

Qual é sua impressão da realidade?

A primeira impressão que nos vem a mente é seu estado de vulnerabilidade à tudo que está a sua volta. Ele é simplesmente atingido violentamente por tudo que o cerca, de uma forma especialmente agressiva. Poderíamos imaginar alguém sendo afetado pelo ambiente, pelas coisas `a sua volta, de uma forma agradável, prazerosa. Lyssin é simplesmente atingido de uma forma contundente, estímulos externos que desencadeiam cefaleias, convulsões, diarreias, enfim, que trazem diversas situações espasmódicas. Basta ver os sintomas cardíacos da patogenesia e os fatores desencadeantes. Outra observação interessante:  indivíduos mais sofridos são consequentemente mais afetados pela rabies, resistiriam menos ao avanços da doença.

Mas esse estado de vulnerabilidade tem uma característica especial: temos um indivíduo com poderes de adivinhação, pessoas que podem ver através de paredes, podem saber quem está presente no outro aposento, etc. Ou seja, isso nos trás uma das primeiras e maiores características de Lyssin: é bem provável que o paciente nos diga que é um vidente desde criança, que tira cartas sobre o futuro, que é capaz de resgatar crianças sequestradas, ou que adivinha o tipo de morte que uma determinada pessoa vai ter. E é claro, serão pessoas extremamente sensíveis a tudo que as cerca, precisando ser mantidas em lugares calmos, distantes, como os personagens do filme de S. Spilberg “Minority Report”. E o interessante desse filme é que os videntes são mantidos em água, de forma a aumentar seus poderes. E a água é, ao mesmo tempo, seu meio, seu habitat e o pesadelos dos dois personagens, o meio pelo qual a sua sensibilidade é aumentada. Nos parece que essa é a chave do entendimento do paciente Lyssinum para essa sua intensa agravação com justamente algo tão fundamental para a vida e ao mesmo tempo tão simples: a água é o condutor universal, é através dela que tudo se comunica. O mar é o símbolo do inconsciente coletivo, onde tudo o que existe e vai existir está presente ao mesmo tempo. E Lyssinum vive imerso nesse mar de informações e sentimentos, adivinhando tudo o que está para acontecer ou mesmo o que já aconteceu.

E Lyssinum vive esse acesso ao inconsciente com uma dor tremenda, como se seu sistema nervoso estivesse exposto a todo e qualquer estímulo, até mesmo um sopro de ar. É interessante que outros metais condutores, como o cobre, também o afetam profundamente. A visão da água renova nele sua sensação de vulnerabilidade, de ser acessado por um número imenso de informações inacessíveis aos seres humanos e que o causam muita dor. Daí seus espasmos, convulsões, crises cardíacas etc.

E como ele se sente, por ter nascido assim? Como ele mesmo afirma no sintoma que diz ser deixado num ninho, não foram seus méritos nem seus atos que o levaram `aquela situação. E nem se sente confortável nesse estado, muito pelo contrário, vive como um abandono, ele e os outros que partilham da mesma sorte, todos abandonados pelos pássaros do Paraíso, todos passando fome, necessidade, pagando por uma falta que não foi cometida por eles. Aqui poderíamos ter, no discurso de Lyssinum, a informação de que não mereceria aquele dom de adivinhação e que, mesmo sendo seu ganha pão, sofre muito com isso.

Lyssinum sabe que não é capaz de se manter, por isso pede os médicos que alimentem seus filhos, pede que tragam comida para eles. Sabem que, com toda aquela sensibilidade, terão que ser protegidos por pessoas que cuidem deles e os cerquem de proteção, caso contrário não terão a menor chance de sobreviver nesse mundo competitivo, violento e agressivo.

E sabem que seu fim está próximo, estão resignados a isso. Esperam o dia da morte com resignação e tranquilidade, podendo até conversar sobre o assunto da morte sem o menor assombro. Talvez pelo fato de lidar com um estado de consciência diferente do das pessoas comuns, ou por que a morte significa para eles um cessar dos estímulos dolorosos da existência.

Eles têm consciência da condição em que se encontram e pedem (talvez devido também a sua hipersensibilidade) para as pessoas se afastarem deles. Isso deve implicar numa dificuldade imensa de manter qualquer tipo de relação. Relações afetivas, amizades, companheiros de trabalho, tudo deve ser muito doloroso para ele. Sua única possibilidade é a de que cuidem dele, que o protejam, o alimentem.

Cabe aqui a pergunta: um paciente assim, se medicado corretamente, perderia seus poderes adivinhatórios? Deixaria de ser um médium, pararia de psicografar livros, de receber mensagens dos mortos, e mesmo as cartas deixariam de falar com ele?