phone_android 021 2239-9827

email contato@letrahomeopatica.com.br

A LINGUAGEM DO REPERTÓRIO

Repertório

A LINGUAGEM DO REPERTÓRIO

J. T. Kent

Tradução: Prof. Claudio Araujo, M.D. F.F. Hom. (Lon.).

Nota introdutória: Para muitos que não foram extensivamente treinados no estudo do repertório, o valor prático de um trabalho como esse permanece fora de compreensão. O artigo que se segue está preparado para lançar luz sobre algumas dificuldades que confrontam aqueles que nao aprenderam a apreciar o imenso valor das possibilidades de um index como o desse moderno repertório, e como a familiaridade com o mesmo abre o fecho do depósito de informações da nossa Materia Medica.

 

O médico deve estudar os princípios homeopáticos até aprender o que existe na doença e que é indicador do remédio curativo. Ele precisa estudar a Materia Medica até ele aprender o que é necessário para atender a essas demandas.

Ele então precisa estudar o repertório até aprender como usá-lo de forma a poder encontrar o que ele quer quando ele o necessitar.

 É necessário que se admita que muitos fazem um trabalho mecânico e falham em realizar que qualquer outra forma (de trabalho) é possível. O médico precisa ler e reler as rubricas no repertório de forma a aprender o que existe nele e como os sintomas são expressos. Frequentemente ele verá uma rubrica ou um sintoma que ele não teria pensado em procurar naquele lugar; ele então precisa buscar na sua mente aonde ele teria procurado por (esse mesmo sintoma); ele deve então fazer uma ou mais referências cruzadas (cross-references) que o guiem no futuro para essa rubrica ou sintoma.

 Muitos falham no uso do repertório pelo fato de pensarem nos sintomas numa linguagem patológica ou por procurarem expressões na linguagem da tradição. Ê preciso ser lembrado que os sintomas nos chegam atraves de experimentadores leigos; que pessoas doentes são pessoas leigas (em medicina). Ambos expressam a doença na linguagem do leigo e o repertório precisa ser um index da Materia Medica. Qualquer esforço no sentido de se converter tanto a Materia Medica quanto o repertório para a linguagem  da medicina tradicional irá resultar numa falha completa. A linguagem técnica condensa o entendimento sobre uma dada doença (the though of a given sickness). É tudo o que é necessário transmitir do que é cogniscível de um médico para outro até que a questão quanto ao remédio aparece e então uma nova questão surge: Qual e o remédio? A resposta vem quando se faz uma outra pergunta: Quais são os sintomas? Os sintomas são a fala que advém do leigo (laity) e da natureza: natureza não educada - natureza simples - apelando para um médico educado (3). Os sintomas de um paciente não possuem significado quaisquer para um médico não treinado - para um médico não treinado na significâcia (significance) dos sintomas do paciente ou do experimentador - portanto o repertório é sem sentido para ele. Isso explica porque tantos tentam usar  o repertório e falham: não foram ensinados (a usar o repertório) nas nossas assim chamadas escolas homeopáticas (homoeopathic colleges).

Todos aqueles que sabem como usar um repertório sao bem sucedidos e nenhum deles jamais o descartou. É aparentemente estranho que todos não procurem encontrar alguém que os ensine a usá-lo quando existem muitos (que sabem e) que gostariam de fazê-lo; é aparentemente estranho que eles não desejem saber como usar o repertório; e aparentemente estranho que eles nao tenham aprendido a notar a precisa linguagem do paciente, a linguagem da Materia Medica e a linguagem do repertório.

 Médicos que sao ignorantes desses métodos nao veem diferença quando o mesmo sintoma aparece em três diferentes pessoas na mesma famîlia, embora um tenha esse sintoma as 10h da manhã, outro à 1h da manhã e outro as 4h da tarde; um melhora com o calor, outro pelo frio, e o terceiro não e afetado por ambos(calor e frio), e eu os tenho visto perguntar muito prontamente: "O que tem aquilo a ver com isso?"

Três pacientes sofrem de um dor de cabeca similar; um está melhor ao ar livre, outro está melhor com aplicações frias, e o terceiro com aplicações quentes; e novamente vem a questão: "O que isso tem a ver com aquilo?" No entanto, essas são sómente as primeiras e mais simples diferenças a serem mencionadas.

O médico que e inexperiente na nossa arte treina sua mente para considerar várias coisas conjuntamente (to lump) e condensar e concentrar e isso o orienta na direção oposta ao que se é requerido. Nós temos grandes grupos ou rubricas mas essas são, a seguir, divididas em condições, circunstâncias e modalidades até que toda a menor diferença em horário, localização, grau e maneira esteja clara para a nossa compreensão de forma a que distinção e individualização possam aparecer. "O que isso tem a ver com aquilo?"

Eu vou mencionar a palavra "fraqueza"(weakness) e mesmo nossos próprios alunos podem dizer:"Que sintoma geral comum para se mencionar," mas se ele esta fraco:

após comer, precisa se deitar um pouco,

no tempo quente,

após evacuar,

após esforço físico e mental,

após o sono,

quem não iria imaginar que Selenium irá curar um caso como esse? Quando esse grupo de circunstâncias está associado com catarro no nariz, garganta e laringe, ou carcinoma, e existem

 desejo por ar livre,

 perda de calor vital (5)

 emagrecimento em pessoas de idade avançada,

 extrema sensibilidade as correntes de vento, até mesmo vento quente,

não resta mais nada ao homeopata (homeopathist) do que prescrever SELENIUM.

 Como pode o médico inexperiente realizar tal tarefa (work it out) sem um repertório apropriadamente utilizado?

O uso próprio do repertório (a sua prática correta) irá resultar numa prescrição imediata (offhand) correta nos casos simples, entre dez e vinte anos(de prática). O uso mecânico do repertório nunca leva a uma prescrição artística ou mesmo a resultados marcantes.

 Certas  características mentais (sintomas) andam de mãos dadas: algumas características da mente são necessarias para um trabalho repertorial bom, artistico, outras (caracteristicas mentais) são da mesma forma proibitivas.

Algumas mentes nao compreendem que a potencialização de uma certa droga é possível na proporção da homeopaticidade daquela droga com relação a um certo grupo de sintomas; e que quando a droga não é similar, sómente a atenuação esta presente. Quando a atenuação se torna potencialização é uma questão que somente o curador-artista pode compreender de uma forma não teórica. O médico que claramente compreende isso pode aprender a compreender o valor dos sintomas e por conseguinte aprender, pela ajuda do repertório, a comparar os sintomas de seu paciente; de outra forma o trabalho repertorial se torna  puramente mecânico.

Talvez um caso clínico possa melhor ilustrar o assunto.

Sra. S., 47 anos, uma mulher muito excitada - quase histérica, por muitos anos tem sofrido: 

Violenta dor de cabeça occipital,

Compelida a tomar remédios fortes, por anos.

Ocorre a cada poucos dias; não passa uma semana sem uma crise.

Contínua, por três dias.

 Calor e pressão dão bastante alívio.

Intestinos constipados; passa uma semana sem desejo; então toma catárticos. (substâncias que aceleram a evacuação N.T)

 Diz: "Já tomei de tudo".

 Fezes duras e pequenas, parecendo esterco de ovelha (sheep-dung).

 Precisa do ar livre; ar frio.

 Ondas de calor.

 Menstruação últimamente ausente.

Urina escassa e forte.

Olhos tem a sensação que eles nao pertencem à ela.

Frio nos joelhos e abaixo dos joelhos.

Muito cansada e excitável.

Hipersensível; extremamente sensivel ao toque pelo corpo todo.

Quais sao os sintomas extranhos raros e peculiares nessa paciente?

Os remédios que tem fezes em bolas duras e redondas parecendo esterco de carneiro e que também tem desejo (craving) forte por ar livre são:

 Alum., Bar-c., carb.-an., carb.-s., caust., graph., KALI-S., mag.-m., nat.-m., nat.-s., op., sulph.

Sem desejo de evacuar por muitos dias: ALUM., carb.-an., CARB.-S., caust., GRAPH., kali.-s.,mag.-m., NAT.-M., OP., sulph. e muitos outros não relacionados ao caso.

Dor de cabeca occipital: Alum., carb.-an., CARB.-S., mag.-m., nat.-m., op., SEP., sulph.

      - - ruído agrava: Carb.-s., mag.-m., nat.-m., sulph.

     - - pressão melhora: MAG.-M., NAT.-M., sulph.

     - - calor melhora: Mag.-m.

Prescrição: 04/Março MAG.-M 10m.

                   09/Abril MAG.-M 10m.

                   20/Maio MAG.-M 50m.

Desde então não tem mais tido dores de cabeça e ela está em boa saúde.

 Nesse caso a dor de cabeca é de um tipo comum, mas foi o que ela trouxe para ser curada. O sintoma peculiar é aquele difícil de se explicar, ou seja: fezes em bolas duras, parecendo "esterco de ovelha" É certamente incomum; não são as fezes que são naturais a um ser humano saudável; não é um sintoma diagnóstico de qualquel doença. Poderíamos supor qualseria o tipo de comoção intestinal poderia partir fezes duras em bolas (lumps) tão pequenas e revirá-las, até que elas se tornassem achatadas, ovais e redondas, pequenas como estêrco de ovelha; as fezes normais e as fezes comuns sao bastante diferentes. Então isso deve ser "estranho, raro e peculiar".

Agora, como ela deseja o ar livre, será melhor eliminar da rubrica acima (fezes como estêrco de ovelha) os remédios que não tem desejo de ar livre; isso nos dá o começo. Então tome a próxima rubrica mais importante, ou seja, inatividade ou ausencia de desejo por uma semana (de evacuar) o que permanece pode ser visto na anamnese acima.

Dessa forma proceda até o fim, tomando os sintomas na ordem da sua importância. O resultado é a cura.